quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

a sapatada segundo saramago

a sapatada segundo saramago

O riso é imediato. Ver o presidente dos Estados Unidos a encolher-se atrás do microfone enquanto um sapato voa sobre a sua cabeça é um excelente exercício para os músculos da cara que comandam a gargalhada. Este homem, famoso pela sua abissal ignorância e pelos seus contínuos dislates linguísticos, fez-nos rir muitas vezes durante os últimos oito anos. Este homem, também famoso por outras razões menos atractivas, paranoico contumaz, deu-nos mil motivos para que o detestássemos, a ele e aos seus acólitos, cúmplices na falsidade e na intriga, mentes pervertidas que fizeram da política internacional uma farsa trágica e da simples dignidade o melhor alvo da irrisão absoluta. Em verdade, o mundo, apesar do desolador espectáculo que nos oferece todos os dias, não merecia um Bush. Tivemo-lo, sofrêmo-lo, a um ponto tal que a vitória de Barack Obama terá sido considerada por muita gente como uma espécie de justiça divina. Tardia como em geral a justiça o é, mas definitiva. Afinal, não era assim, faltava-nos o golpe final, faltavam-nos ainda aqueles sapatos que um jornalista da televisão iraquiana lançou à mentirosa e descarada fachada que tinha na sua frente e que podem ser entendidos de duas formas: ou que esses sapatos deveriam ter uns pés dentro e o alvo do golpe ser aquela parte arredondada do corpo onde as costas mudam de nome, ou então que Mutazem al Kaidi (fique o seu nome para a posteridade) terá encontrado a maneira mais contundente e eficaz de expressar o seu desprezo. Pelo ridículo. Um par de pontapés também não estaria mal, mas o ridículo é para sempre. Voto no ridículo.

josé saramago

(Nós, do subindo nas tamancas, também votamos no ridículo. Pois que mais poderia merecer esse Bush, esse biltre, pascácio, mequetrefe, bilontra, biruta, bisbórria, blufo, retardado, boçal, estulto, esturrado, capadócio, histrião, estúpido, zureta, zuruó. Ou seja, um bosta. Disse bosta? Disse-o mal. Melhor diria, uma fatia de bosta.)

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Na falta de sapatos oferecemos nossas tamancas

Na falta de sapatos oferecemos nossas tamancas

Este blog tem como valores a democracia, a liberdade, o respeito ao meio ambiente, a justiça social e a fraternidade e tolerância entre os povos. Afirmamos isto porque a manifestação intempestiva de um jornalista iraquiano, que atirou na cabeça do Sr. Bush Júnior um par de sapatos quando de sua visita ao Iraque no dia 15 de dezembro, pede nossa contribuição.

Somos visceralmente contra qualquer guerra ou qualquer ato de terror. A razão é simples: a violência contra a vida é a barbárie. Não há justificativa para que civis – não importa se homens, mulheres ou crianças – morram em nome de qualquer bandeira, seja ela de um país, religião ou cultura.

As relações entre ocidente e oriente – em especial com o mundo árabe – carecem de uma perspectiva histórico-cultural para atenuar seus inevitáveis impactos, o que Bush Júnior e seus falcões nunca tiveram. Isto sem falar da ganância das empresas petrolífera e bélica.

No entanto, não queremos aqui fazer qualquer análise. O que importa é que não há justificativas para a guerra do Iraque nem aos ataques terroristas de 11 de Setembro.

Desta forma, queremos aqui dar nossa contribuição: preferimos os tiros de sapatos aos tiros de canhão. Esta é a nossa contribuição. Na falta de sapatos oferecemos nossas tamancas.