terça-feira, 21 de outubro de 2008

Coronéis

Ninguém escreve aos coronéis,

ninguém enfrenta os coronéis

(servidão voluntária?)

e no final, quem sabe,

ninguém se recusará a beijar a mão dos coronéis.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Entomologia e política: uma breve reflexão

Entomologia e política: uma breve reflexão

A entomologia é a área da biologia que estuda os insetos. Segundo os entomólogos, as pulgas, de vista geral, são insetos parasitas que se alimentam de sangue de mamíferos como o rato, o cão, o gato e o homem. Foram encontradas pulgas em fósseis de mamíferos que existiram há cerca de 60 milhões de anos. Várias doenças são transmitidas por estes insetos; por exemplo, peste bubônica, febre das trincheiras, salmoneloses, tifo murino, entre outras, que têm afligido a humanidade durante séculos. A infestação se dá quando as pulgas se alimentam do hospedeiro. Porém, também pode ocorrer quando os humanos esmagam as pulgas com as unhas dos dedos (ora vejam!) Uma pulga vive em média 100 dias; mas, sem alimento, apenas 30.

Após este breviário, ficam três perguntas:

O que acontecerá com as pulgas quando o rato morrer?

Onde estarão as pulgas no início de novembro?

Se não é seguro esmagá-las com os dedos, como eliminar um parasita que aflige a humanidade há tanto tempo?


sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Tudo o que é solido escorre por entre os dedos

Tudo o que é sólido escorre por entre os dedos

Vivemos um período singular da História. A crise financeira que abala o mundo resulta em ativos financeiros que se desfazem, riquezas que desaparecem, governos e bancos centrais aturdidos sem capacidade de ação e, quem sabe, ainda veremos especuladores financeiros falidos se jogarem de prédios como na crise de 1929. Eu, particularmente, aguardo que uma meia dúzia contribua com este espetáculo bem na hora dos noticiários noturnos. Seria didático e exemplar.

De qualquer forma, mesmo sem vermos especuladores pulando literalmente dos prédios de Wall Street, a crise representa um momento como poucos e atinge em cheio os valores de uma sociedade baseados na ambição desmedida e na busca de riquezas. Neste momento, a frase de Carlos Marx (à moda portuguesa, se me permitem) "tudo que é sólido se desmancha no ar" remete-nos à procura de riquezas verdadeiramente sólidas, mesmo que venham a ser... líquidas.

A verdade salta aos olhos, ou melhor, escorre por entre nossos dedos. O rio Tietê, estendido aos seus inúmeros mananciais e afluentes, sustenta bosques e trechos de Mata Atlântica. Como se não bastasse o fato das águas deste rio permitirem que milhões de pessoas da Grande São Paulo tenham acesso a um bem básico da vida - água potável - , este mesmo rio é indispensável à produção agrícola, ao lazer e ao entretenimento, ao turismo, aos processos industriais, y otras cositas más.

Somente um celerado não vê o significado que esta riqueza representa para as pessoas que aqui vivem, e para os milhões que dela dependem. Logo, as diversas formas de poluição, desmatamento, uso inadequado, desperdício, contaminação, depredação, especulação imobiliária, representam crimes conforme prescrito na Lei. E mais: uma forma imediatista e estúpida de tratar nossa maior riqueza regional – águas e trechos de florestas - como se não valesse nada.

Boa parte do mundo, não tão afortunada quanto nós, se desespera vendo seus ativos "sólidos" se desfazendo no ar, enquanto torcemos para que nada nos aconteça. Torcer talvez ajude, mas o momento exige também outro tipo de ação: o que faremos com nosso principal ativo líquido?

Mesmo com toda a discussão dos últimos anos que o tema Meio Ambiente tem levantado, atitudes e projetos de desenvolvimento sustentado de envergadura ainda estão por vir, e o debate, por fazer. Eu espero não ver, quem sabe num futuro próximo, pessoas cometendo suicídio pulando do alto da Serra do Itapety. Isso significará, com certeza, que todos nós teremos falhado miseravelmente.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Misoneísmo (à luz de Jung)


" O negro é, para algumas pessoas, a imagem arquetípica da "criatura primitiva e sombria", portanto uma personificação de certos conteúdos do inconsciente.Talvez seja esta uma das razões por que o negro é, tantas vezes, rejeitado e temido pela gente branca. Nele o homem branco vê, diante de si, a sua contrapartida viva, o seu lado secreto e tenebroso (exatamente o que as pessoas tentam sempre evitar, o que elas ignoram e reprimem). Os brancos projetam no homem negro os impulsos primitivos, as forças arcaicas, os instintos incontrolados que se recusam a admitir em si próprios, de que estão inconscientes e que imputam, consequentemente, a outros."


Carl Gustav Jung




segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Sabotagem


- Uma das formas de utilização das tamancas -

Sabotagem - Do francês sabotage.  Ato de impedir o pleno funcionamento de quaisquer mecanismos, institucionais ou não, que são contrários aos interesses dos sabotadores.

A palavra sabotagem deriva de sabot, tamanco de madeira em francês. Nos séculos XVIII e XIX estava associada com os operários que os usavam, pois quando não estavam satisfeitos com as condições de trabalho, os atiravam entre as engrenagem das máquinas, interrompendo o funcionamento das mesmas e obrigando os patrões a ouvir suas reivindicações. A sabotagem foi amplamente utilizada por todos os exércitos da antiguidade, principalmente na guerra, e é utilizada atualmente por alguns governos ou grupos políticos com o fim de que suas populações não se organizem.

E se sabotagem fosse um vírus, haveria vacina para isso?

Uma grande cidade no Alto Tietê provou que sim, a vacina existe e que mais da metade de sua população já está imunizada. O restante é só uma questão de tempo.

4 anos para sermos mais exatos.

o dia 05 de outubro em suzano traduzido por fernando pessoa

MENSAGEM
SEGUNDA PARTE / MAR PORTUGUEZ

Possessio maris.
III. PADRÃO
O esforço é grande e o homem é pequeno.
Eu, Diogo Cão, navegador, deixei
Este padrão ao pé do areal moreno
E para diante naveguei.
A alma é divina e a obra é imperfeita.
Este padrão sinala ao vento e aos céus
Que, da obra ousada, é minha a parte feita:
O por-fazer é só com Deus.
E ao imenso e possível oceano
Ensinam estas Quinas, que aqui vês,
Que o mar com fim será grego ou romano:
O mar sem fim é português.
E a Cruz ao alto diz que o que me há na alma
E faz a febre em mim de navegar
Só encontrará de Deus na eterna calma
O porto sempre por achar.

Fernando Pessoa

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

tropeçando na história

Mãos dadas, os dois namoradinhos passeavam pelos lados da Capela de Santo Alberto, lá no meio da Serra do Itapety, quando, de repente - poft - ela tropeça.

- Uma pedra, exclama ele.
- Uma pedra, não, corrige ela, isto é uma pederneira, que os bandeirantes usavam para disparar seus bacamartes. Batiam duas pederneiras, saltava uma faísca e mandavam bala, disse, rindo.

A namoradinha era uma ecóloga (canadense, vejam vocês), tinha o olhar treinado, percebeu a importância de sua topada, o que propiciou a descoberta de um sítio arqueológico no local.


O duro é saber que todo esse material deve estar jogado nalgum canto na Universidade Braz Cubas. Mas nós vamos atrás. Pederneiras do Alto Tietê, nos aguardem.



quarta-feira, 1 de outubro de 2008

fugindo do mar

O Tietê é um rio do contra: nasce lá no alto da Serra do Mar, quase despinguelando para o Atlântico e, caprichoso, debanda território adentro, atravessa o (hoje) estado de São Paulo e se esbalda nas águas caudalosas do rio Paraná. É um rio tipicamente paulista, voltado para dentro, a partir do qual o caráter daquela gente rude foi forjado, gente saída da vila de Piratininga para explorar a terra, caçar índios e buscar ouro e esmeraldas.

É para as cabeceiras - e para as cabeças - desse rio do contra que se volta nosso olhar, a gente da nascente, as planícies e as terras férteis de Biritiba, de onde se abre a grande várzea do velho Anhembi banhando as bordas da Serra do Itapety e os campos do Mirambava, na sinuosa estrada d'água cortando Itaquá a caminho do antigo povoado de Anchieta.

Quanta história e quantas estórias: a resistência cultural das danças do Divino e de São Gonçalo; a primeira experiência radiofônica de que se tem notícia; a arte popular escondida nas capelas e nas igrejas; o impacto da Estrada de Ferro Central do Brasil; as hortaliças; as flores; as frutas; os imigrantes; as granjas; o aço; o ferro; o papel, as represas. Quanta história e quantas estórias: esse o objeto de nossos olhares. Venha conosco. Com certeza você tem algo a dizer. Ou alguém da família. Ou os amigos, os vizinhos. Compartilhe conosco seu olhar. Suba nas tamancas e solte o verbo: o espaço, este espaço todo, também é seu.