sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Tudo o que é solido escorre por entre os dedos

Tudo o que é sólido escorre por entre os dedos

Vivemos um período singular da História. A crise financeira que abala o mundo resulta em ativos financeiros que se desfazem, riquezas que desaparecem, governos e bancos centrais aturdidos sem capacidade de ação e, quem sabe, ainda veremos especuladores financeiros falidos se jogarem de prédios como na crise de 1929. Eu, particularmente, aguardo que uma meia dúzia contribua com este espetáculo bem na hora dos noticiários noturnos. Seria didático e exemplar.

De qualquer forma, mesmo sem vermos especuladores pulando literalmente dos prédios de Wall Street, a crise representa um momento como poucos e atinge em cheio os valores de uma sociedade baseados na ambição desmedida e na busca de riquezas. Neste momento, a frase de Carlos Marx (à moda portuguesa, se me permitem) "tudo que é sólido se desmancha no ar" remete-nos à procura de riquezas verdadeiramente sólidas, mesmo que venham a ser... líquidas.

A verdade salta aos olhos, ou melhor, escorre por entre nossos dedos. O rio Tietê, estendido aos seus inúmeros mananciais e afluentes, sustenta bosques e trechos de Mata Atlântica. Como se não bastasse o fato das águas deste rio permitirem que milhões de pessoas da Grande São Paulo tenham acesso a um bem básico da vida - água potável - , este mesmo rio é indispensável à produção agrícola, ao lazer e ao entretenimento, ao turismo, aos processos industriais, y otras cositas más.

Somente um celerado não vê o significado que esta riqueza representa para as pessoas que aqui vivem, e para os milhões que dela dependem. Logo, as diversas formas de poluição, desmatamento, uso inadequado, desperdício, contaminação, depredação, especulação imobiliária, representam crimes conforme prescrito na Lei. E mais: uma forma imediatista e estúpida de tratar nossa maior riqueza regional – águas e trechos de florestas - como se não valesse nada.

Boa parte do mundo, não tão afortunada quanto nós, se desespera vendo seus ativos "sólidos" se desfazendo no ar, enquanto torcemos para que nada nos aconteça. Torcer talvez ajude, mas o momento exige também outro tipo de ação: o que faremos com nosso principal ativo líquido?

Mesmo com toda a discussão dos últimos anos que o tema Meio Ambiente tem levantado, atitudes e projetos de desenvolvimento sustentado de envergadura ainda estão por vir, e o debate, por fazer. Eu espero não ver, quem sabe num futuro próximo, pessoas cometendo suicídio pulando do alto da Serra do Itapety. Isso significará, com certeza, que todos nós teremos falhado miseravelmente.

Um comentário:

  1. Parabéns pelos textos tão bem escritos e de alto nível e critica!
    Parabéns meus amigos, Amaury e Cid, saudades da luta melada mogiana !!!

    Beijos
    Kira

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