terça-feira, 7 de junho de 2011

Zeus e o inferno cristão.



Meu caro amigo Cid, esta noite sonhei que era Zeus.




Sim, o próprio Zeus! Eu não era Marte, Poseidon ou Hermes, mas o poderoso Zeus voando pelos campos e colinas dos meus domínios no Olimpo. Se bem que o Olimpo mais parecia um capoeiral do que os campos idílicos das gravuras dos grandes mestres, mas eram os meus domínios e estavam cheio de zéfiros, elfos e outras criaturas que ainda não figuravam na lista de ameaçados de extinção do Greenpeace.



Havia também várias ninfas, e no sonho eu estava entretido em decidir com qual delas eu iria dar mais uma “voadinha”. Aliás, as ninfas são todas iguais. Não podem ver um deus fazendo suas acrobacias aéreas e pensando em como governar o mundo que elas já se oferecem de intrometidas.



Pois bem, estava eu lá atormentado com minha vida de Zeus, sim, porque todo deus é um atormentado, quando resolvi voltar pra casa. Chamei as ninfas e aquela fauna de pequenos seres do bosque e começamos a fazer o caminho de volta. E lá nos confins, quase na periferia do Olimpo, eu senti a presença de algo estranho.



Ouvi uma voz a me chamar por Amaury.



Por que deram um nome bárbaro germânico para um deus grego eu não faço idéia, mas, ao me virar, vejo um eremita em uma caverna de pau-a-pique a pedir por ajuda.



Era você, meu caro Cid, a pedir por ajuda porque seria despejado por uma entidade perversa. Sim, despejado de sua caverna de pau-a-pique. Até agora não sei por que ele queria a sua caverna de paus e barro...



Continuando, esta entidade-homem se aproximou com cara de poucos amigos e me disse qualquer coisa, mas agora não me lembro o que era. Talvez não importe para o meu sonho. O que eu me lembro é que fiquei cheio de cólera, e que, com um único movimento dos braços, transformei a tal da caverna em pó. Não sobrou nada.



Em seguida me dirigi à entidade e disse, com minha poderosa voz de Zeus quando está colérico, que se ele se atrevesse a incomodar meu amigo Cid novamente eu faria dele gato e bota (no Olimpo não há sapato).



A tal entidade, em forma de homem mal encarado, é bom lembrar, se retirou resmungando e com expressão de vingança nos olhos. Fiquei perplexo com a falta de temor dele ao poderoso Zeus.



Já próximo do meu despertar, com os zéfiros, ninfas e outros bichos descendo o morro do Olimpo, algo começou a me incomodar. Cada personagem fizera várias escolhas durante o sonho e eu me perguntava o por quê destas escolhas.



As escolhas eram inerentes a todos eles. Ao escolher, exerceram seu livre arbítrio e passaram à existência. A escolha os tornou humanos, senhores de seus atos e de seu destino. Humanos livres diante da responsabilidade da escolha.



E antes do meu despertar completo me dei conta do que tinha feito. No lusco-fusco do meu sonho eu criara o inferno cristão.



O inferno é a escolha; o demônio, a dúvida.



Tolos cristãos, Zeus está morto.













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