segunda-feira, 6 de junho de 2011

Marcelo Tas, o CQC e o macaco nu

O zoólogo Desmond Morris apresenta em seu livro O macaco nu (The naked ape) uma explicação para o fato de que somente os seres humanos, entre todos os animais, têm a capacidade de rir.


Segundo ele, quando o bebê nasce é capaz de manifestar suas necessidades básicas apenas por meio do choro. A criança chora quando sente dor ou sente medo.


Diante do novo e do inesperado, muitas vezes a criança chora pedindo pela proteção dos pais. Um movimento brusco, indicando possível queda ou dor, leva ao choro. A criança chora compreendendo intuitivamente a consequência da queda, porque tem medo de cair.


Com o passar do tempo, o bebê reconhece cada vez mais e confia nos pais. E o choro se transforma em riso para manifestar um novo sentido. Quando a mãe brinca de “deixar cair”, ele ri como quem diz: Eu tenho medo, mas confio em você. Rimos quando estamos satisfeitos e confiantes diante de determinada situação. É isso que a criança diz, rindo, à sua mãe.


Os recentes episódios envolvendo @marcelotas e os outros integrantes do CQC – ameaça de protesto contra a blogueira Lola, a piada de Rafinha Bastos sobre o estupro, e a de Danilo Gentille, sobre judeus – nos levam a perguntar o que de errado há com o programa.


Assisti a vários programas do CQC porque esperava ser uma alternativa aos programas de quadros e personagens fixos, como Zorra Total, A Praça é Nossa, Casseta e Planeta, tão desgastados. Contudo, o CQC não funcionava. Passadas algumas semanas ficou clara a falta de conteúdo, o mau gosto das piadas e comentários, a grosseria com os entrevistados.


Terninhos pretos, óculos escuros e uma câmera com edição rápida e nervosa não fazem um programa de humor moderno, mas não era isso. A ideia de fazer um jornalismo diferente, o “jornalismo moleque”, visitando o Congresso Nacional para colocar deputados em situações ridículas, também não funcionava. Qualquer repórter com um microfone na mão faria o mesmo. Isso não é humor.


Qual é então o problema do Programa do CQC?


Voltemos ao riso.


Por que rimos das travessuras do “adorável vagabundo” Carlitos, de Chaplin? Por que rimos de suas estripulias? Por que rimos dos palhaços que jogam tortas na cara uns dos outros? Por que rimos de suas piadas?


Rimos porque eles falam de nós mesmos. Falam de nossos defeitos, nossas falhas de caráter, nossos pecadilhos do dia a dia. Rimos do Gordo e o Magro, dos Três Patetas, de Oscarito e Grande Otelo, do palhaço de circo no bairro mais pobre do Brasil porque eles são nossas caricaturas enquanto seres humanos. Eles falam de nossas grandezas e fraquezas, sentimentos e pesares.


Eles jogam “tortas” de Verdades na nossa cara e nos dizem o quanto somos grotescos e pequenos quando erramos. Não ficamos indignados, mas rimos porque isso isso faz parte da brincadeira. Rimos como quem diz – “Eu tenho medo do meu erro, mas confio em você”. Talvez achemos que, rindo de nossas misérias como seres humanos, poderemos ser melhores amanhã.


O problema do CQC é que ele não nos fala a verdade. Ele não mostra como somos. Marcelo Tas e o CQC estão o tempo todo a dizer como eles acham que deveríamos ser. Querem ditar éticas, valores e opiniões. Apontar erros dos outros, mas ocultar os seus. Falar de liberdade, mas desqualificando os que não acreditam no que eles dizem.


Isto não faz parte da brincadeira.


Quando deixam de falar sobre o que somos e passam a falar sobre outras coisas, traem nossa confiança. Eles ocultam o que querem. Mentem.


A intenção do CQC não é fazer rir, e, sim, fazer certo tipo de política. Isso seria aceitável se eles dissessem a verdade. Mas não dizem, e isso não tem graça nenhuma.


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